sábado, 9 de dezembro de 2006

08 de Dezembro - Hoje a Igreja celebra : Solenidade da Imaculada Conceição


O pecado original é uma realidade misteriosa e pouco evidente para nós enquanto comporta um prolongamento da culpa dos progenitores até todos nós. Neste dia, nós o consideramos na sua conspícua excepção ou melhor no singular privilégio concedido a Maria, que foi dele preservada desde o primeiro instante da sua concepção, da sua existência humana. O valor doutrinal desta festividade é manifesto na prece da celebração litúrgica, que sublinha o privilégio concedido à futura Mãe de Deus; "Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem preparaste ao teu Filho uma morada digna dele...", e a própria natureza deste privilégio, enquanto não subtrai Maria à Redenção universal efectuada por Cristo: "Tu que a preservaste de toda a mancha na previsão da morte do teu Filho..."
Antes que Pio IX, com a bula Ineffabilis Deus em 1854, definisse solenemente o dogma da Imaculada Conceição, não obstante as hesitações de alguns teólogos, que podiam apelar para o próprio São Tomás de Aquino, tinha-se chegado a um desenvolvimento não só da devoção popular para com a Imaculada mas também nas intervenções dos papas a favor desta celebração. Antes que o calendário romano incluísse a festa em 1476, esta já havia aparecido no Oriente no século sétimo, e contemporaneamente na Itália meridional dominada pelos bizantinos.
Em 1570, Pio V publicou o novo Ofício e finalmente em 1708 Clemente XI estendeu a festa, tornando-a obrigatória, a toda a cristandade. Mas desde a origem do cristianismo Maria foi venerada pelos fiéis como a TODA SANTA. No primeiro esboço da festa litúrgica da Conceição, anterior ao século sétimo, nota-se, se não a profissão explícita da isenção da culpa original, pelo menos uma persuasão teologicamente equivalente. "Potuit, decuit, ergo fecit", havia argumentado um brilhante teólogo medieval: "Deus podia fazê-lo, convinha que o fizesse, portanto o fez." Do infinito amor de Cristo para com a Mãe, que a pré-redimiu e a cumulou do Espírito Santo desde o primeiro instante da sua existência, derivou este singular privilégio, que a Igreja hoje celebra para nos fazer meditar sobre a beleza de toda alma santificada pela graça redentora de Cristo.
Quatro anos após a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, a Virgem apareceu a Santa Bernadette Soubirous. Para a menina que, timidamente, perguntava: "Senhora, quer ter a bondade de me dizer o seu nome?", Maria respondeu: "Eu sou a Imaculada Conceição."

Evangelho segundo S. Lucas 1,26-38.

Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.

Da Bíblia Sagrada

sábado, 28 de outubro de 2006

Descoberto gene chave da doença de Crohn


Avanços ajudam a compreender doenças ligadas a variações genéticas

Investigadores norte-americanos e canadianos descobriram um gene chave da doença de Crohn - uma inflamação abdominal crónica rara em Portugal - que poderá abrir caminho a tratamentos mais eficazes para a combater, indica hoje a revista Science.


A descoberta explica um importante mecanismo inflamatório que muda a compreensão das doenças ligadas a variações genéticas, segundo Judy Cho, professora de medicina e genética na Universidade de Yale, e co-autora da investigação.

Enquanto que a maioria das variações do gene em causa está fortemente associada à doença de Crohn, uma delas parece conferir uma protecção importante contra a infecção, assinalou.

Este avanço permite definir um alvo para o desenvolvimento de novos medicamentos que poderão ajudar a controlar melhor a doença de Crohn ou retocolite hemorrágica.

Os sintomas e tratamentos dependem do doente, mas é comum haver dor abdominal, diarreia, perda de peso e febre. Actualmente não há cura para esta doença, no entanto os tratamentos permitem alívio dos sintomas e melhoria de qualidade de vida.

"Esta descoberta importante faz realçar o potencial oferecido pelo projecto do genoma humano para compreender as causas de doenças complexas e desenvolver tratamentos mais eficazes", sublinha um comunicado do departamento de doenças do sistema digestivo dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

Considerada rara em Portugal, esta doença afecta mais de um milhão de norte-americanos.

http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/20061027_crohn.htm


sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do Natal





Reis Magos, santos esquecidos dentro das tradições do Natal

Armando Gimenez

Das figuras bíblicas mais intimamente ligadas à tradição religiosa do povo destacam-se os Reis Magos, ou melhor, os Santos Reis uma vez que a hagiologia romana considera-os bem aventurados.

O simbolismo dos Reis Magos é amplo e emprestam-lhes os exegetas as mais diversas interpretações. Estão ligados intimamente às festas do Natal e deles nasceu, praticamente, a tradição do Papai Noel, pois os presentes dados nessa ocasião reproduzem que os magos do Oriente, depois de cumprida a rota que lhes

indicava a estrela de Belém, prestaram a Jesus na gruta onde ele nascera.

As referências bíblicas são vagas e o episódio quase passa despercebido dos evangelistas, mas as contribuições da tradição patriática são muitas e, como elas têm força de fé e verdade, nelas devemos

buscar grande parte das coisas que se contam dos santos Belchior, Gaspar e Baltazar já referidos pelos profetas do Velho Testamento, que vaticinavam a homenagem dos Reis ao humilde filho de Davi que deveria nascer em Belém.

De onde vieram e o que buscavam, pouca gente sabe. Vinham do Oriente e Baltazar, o mago negro talvez viesse de Sabá (terra misteriosa que seria o sul da Península Arábica ou, como querem os etíopes, a Abissínia). Simbolizam também as três unicas raças bíblicas, isso é, os semitas, jafetitas e camitas. Uma homenagem, pois, de todos os homens da Terra ao Rei dos Reis.

Eram magos, isto é, astrólogos e não feiticeiros. Naquele tempo a palavra mago tinha esse sentido, confundindo-se também com os termos sábio e filósofo. Eles prescrutavam o firmamento e sentiram-se chocados com a presença de um novo astro e, cada um deles, deixando suas terras depois de consultar seus pergaminhos e papiros cheios de palavras mágicas e fórmulas secretas, teve a revelação de que havia nascido o novo Rei de Judá e, que ele, como soberano, deveria, também, prestar seu preito ao menino que seria o monarca de todos os povos, embora o seu Reino não fosse deste mundo.

O simbolismo dos presentes

Conta ainda a tradição que, ao chegar a Canaã, indagaram os Magos onde havia nascido o novo Rei de Judá. Essa pergunta preocupou Herodes, que hoje seria considerado um quisting a serviço dos romanos, e que reinava na Judéia.

Os representantes do Império preocupavam-se com o aparecimento de um novo lider do povo de Israel. A revolta dos macabeus ainda não fora esquecida e o povo oprimido esperava, ansioso, pela vinda do Messias que iria libertar o Povo de Deus e cumprir a palavra do salmista: "Disse o Senhor ao meu Senhor — senta-te à minha direita até que ponho os teus amigos como escarbelo aos teus pés".

Os magos procuram — conforme conselho de Herodes — o novo Rei para render-lhe homenagem e para informar o representante romano do lugar onde nascera o Messias a fim de, com falso preito, sequestrá-lo.

No presépio encontramos apenas os animais e os pastores e, inspirados pelo Espírito Santo, curvaram-se diante do filho do carpinteiro de Nazaré e depositaram, ao pé da mangedoura que lhe servia de berço, os presentes: ouro, incenso e mirra, isto é prendas que simbolizavam a realeza, a divindade e a imortalidade do novo Rei, e grão de areia que cresceria e derrubaria o ídolo de pés de barro (simbolo das grandes potências que se sucederam no domínio do mundo), do sonho de Nabucodonosor decifrado pelo profeta Daniel.

Símbolos da humildade

Na tradição cristã os três Reis Magos simbolizavam os poderosos que deveriam curvar-se diante dos humildes na repetição real do canto da Virgem Maria à sua prima Isabel, e "Magnificat", pois sua alma rejubilava-se no Senhor, que exaltaria os pequenos de Israel e humilharia os poderosos.

A igreja cultua os Reis Magos dentro desse simbolismo. Representam os tronos, os potentados, os senhores da Terra que se curvara diante de Cristo, reconhecendo-lhe a divina realeza. É a busca dos poderosos que vêem em Belchior, Gaspar e Baltazar o exemplo de submissão aos designios de Deus e que devem, como os magos, despojar-se de seus bens e depositá-los aos pés dos demais seres humanos, partilhando sua fortuna como dignos despenseiros de Deus.

Os presentes de Natal também têm esse sentido. São as ofertas dos adultos à criança que com a sua pureza representa Jesus. Alguns, dão a essas festas um sentido mitológico pagão, buscando nas cerimônias dos druidas, dos germânicos ou saturnais romanas a pompa das festas natalinas que culminam com a Epifania.

A Bifana

A palavra epifania, usada também como nome de mulher, deu origem a uma corruptela dialetal do sul da Itália, levada depois a Portugal e Espanha, a Bifana. A Bifana, segundo a lenda, era uma velha que, no dia de Reis, saía pelas ruas da cidades a entregar presentes aos meninos que tivessem sido bons durante o ano que findara. Estava intimamente ligada às tradições dos povos mediterrâneos e mais próxima do significado litúrgico das festas natalícias. Os presentes eram somente dados no dia 6 de janeiro e nunca antes. Tanto assim é, que nós mesmos, no Brasil, na nossa infância, recebíamos os presentes nesse dia. Depois, com a influência francesa e inglesa em nossas tradições a Epifania ou Bifana foi substituída pelo Papai Noel, a quem muitos estudiosos atribuem uma origem pagã e outros, para disfarçar o sentido comercial da sua presença no dia de Natal, confundem com São Nicolau.

Hoje, o Santos Reis já não são lembrados. O presépio praticamente não existe e só neles é que podemos ver os Magos de Oriente apresentados. A árvore de Natal, pinheiro que os druidas e os feutos enfeitavam para agradar o terrível deus do inverno Hell, substituíria a representação do nascimento de Jesus, introduzida no costume dos povos por São Francisco de Assis. A festa da Epifania, dia de guarda no calendário litúrgico, já não mais é respeitada e com ela desaparecerem outras tradições da nossa gente, trazidas da Peninsula Ibérica pelos nossos antepassados, como a folia de Reis, Reizados e tantos outros autos folclóricos, cultuados em poucas regiões do país.


Gimenez, Armando. "Reis Magos, santos esquecidos de
ntro das tradições do Natal". Diário de São Paulo, São Paulo, 5 de janeiro 1958

http://www.portaldafamilia.org/datas/natal/reismagos.shtml

sábado, 24 de dezembro de 2005

Um Feliz Natal Para Todos!!!

Para todos os meus amigos(as)

NATAL DE TODOS OS TEMPOS
O que fazer para lembrarmos de Deus? difícil não? 2005 foi um ano de dificuldades para muita gente. Com certeza um ano em que muitos se lembraram de Deus nos momentos difíceis, sim, porque é só nos momentos difíceis que costumamos rogar ou implorar o nome de Deus em busca de uma benção ou de um pedido especial por uma ajuda, muitas vezes sem ao menos refletirmos na razão do nosso pedido.

Só que nós os seres humanos nos esquecemos com muita facilidade das promessas que fazemos e tão logo passe a dificuldade ou tenhamos o nosso pedido atendido e já nos esquecemos daquele que sempre nos estende a mão. Mas hoje é natal.... Hoje é dia de festa.... A festa do nascimento de Cristo, e nós costumamos comemorar a sua festa sem ao menos lembrarmos dele. Normalmente em nossa família quando alguém está aniversariando costumamos cantar parabéns.... Mas para Jesus Cristo que hoje está aniversariando poucos são aqueles que lembram ao menos do seu nome... Porque hoje é festa.... Festa de Natal.... Natal que é aniversário de Cristo.... Só que cristo não está materializado em nosso meio para que possamos lembrar Dele... Claro... Hoje seria necessário que ele fosse de carne e osso para que pudéssemos lembrar Dele. Pois hoje é festa... E festa é momento de alegria... E em momentos de alegria nós normalmente não precisamos dos favores Dele... Afinal no natal poucos trabalham... poucos tem preocupações... Poucos tem dívidas a pagar... Então para que lembrar de Cristo? Porque é só nessas horas que lembramos Dele... Quando nos Sentimos sozinhos e abandonados... Mas hoje é diferente... Hoje temos a companhia dos amigos para fazer a festa... A festa daquele que não está presente nem em nosso pensamento... Mas mesmo assim ele está aí ao nosso lado... Representado no semblante de cada um de nossos semelhantes... No mendigo que hoje não tem festa... Nos velhinhos esquecidos nos asilos... Nas crianças abandonadas em orfanatos... Nos deficientes... Nos pobres esquecidos pela sociedade... Só que o difícil para nós é vermos tudo isso que acontece em nossa volta num dia de festa... Afinal é Natal! E tudo é festa!... Problemas? E quem tem problemas hoje?.. Fome?... Mas quem disse que alguém passa fome hoje?... Desonestidade?... Isso é impossível!.. Somos tão puros... É natal, não devemos pensar em tristeza, pois hoje é Natal... Temos mais é que comemorar... Só não sabemos ao certo o que comemoramos, mas a festa é do natal... Só que esquecemos de convidar o aniversariante... Seja bem vindo Jesus Cristo!!!




Desconhecido

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

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FELIZ NATAL !!!!


FELIZ E SANTO NATAL
PARA TODOS!!!

Que tudo de Bom venha com os presntes que mais desejamos: A SAÚDE, O AMOR,FELICIDADE, PAZ e MUITO DINHEIRO PARA GASTAR E AJUDAR!!!





António Estêvão
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domingo, 30 de outubro de 2005

Terramoto de Lisboa: nove minutos que abalaram o mundo



Terão morrido dez mil dos 250 mil habitantes da capital

Terramoto de Lisboa: nove minutos que abalaram o mundo

É dia 1 de Todos os Santos e a manhã de sábado, 1 de Novembro de 1755, surgiu límpida e amena, ainda a lembrar um longo Verão sem pinga de chuva. "Os ares da atmosfera estavão mui subtis e puros", registou um lisboeta. "Fazia um tempo sereno e o céu não tinha uma nuvem", descreveu um comerciante inglês.

A temperatura ronda os 18 graus. É dia de missas e o povo de Lisboa - muita da nobreza ainda goza o bom tempo fora da cidade - enche as igrejas. D. José passou a noite na Real Casa de Campo de Belém e conta ir aos Jerónimos.

Pouco depois das nove e meia, "um rugido surge das entranhas da terra", como o "som de carruagens conduzidas com violência". Um abalo sacode Lisboa por minuto e meio. Pouco depois, a terra volta a tremer com mais força durante mais de dois minutos. Os edifícios, muitos de três e quatro andares, começam a ruir com estrondo. A acalmia dura um minuto. Segue-se nova réplica, "que dura uma eternidade" - três minutos. O pico da crise sísmica teve três impulsos, demorou nove minutos e, sabe-se hoje, terá tido uma magnitude de 8,7 da escala de Richter.

Um inglês, residente numa casa de quatro pisos, descreve assim os primeiros momentos do abalo: "o movimento era tão violento que eu me mantinha de pé com dificuldade. Toda a casa rachava à minha volta, as telhas chocalhavam lá no cimo; as paredes despedaçavam-se por todos os lados. (...) ouvi aterrorizado a queda das casas à volta e os gritos e choros de pessoas vindos de todos os lados".

Danos incalculáveis

Grande parte de uma das mais opulentas capitais da Europa está no chão. Pouco resta da parte baixa, do Rossio ao Terreiro do Paço as muitas casas de três e quatro andares e os casebres dos bairros sobrepovoados que acompanhavam as colinas vieram por aí abaixo. Os símbolos também caem: o Palácio Real da Ribeira, com os seus armazéns de especiarias e a sua grande biblioteca, desabou em parte e, no Rossio, ruiu o da Inquisição - hoje lembrado na varanda de pedra retirada dos escombros que decora a sede do Grémio Lusitano, do outro lado da praça.

Dos 65 conventos de Lisboa, só cinco ficam em condições de dar abrigo aos milhares de desalojados. No Carmo ficam de pé os arcos góticos, mas as abóbadas despenham-se sobre os crentes que assistiam à missa. Mais de 30 palácios vêm abaixo, como o dos duques de Bragança, o maior de Lisboa (ao fundo da Rua António Maria Cardoso). Cai a Ópera do Tejo, perto da Ribeira das Naus, inaugurada apenas há sete meses. Caem prisões, como a do Tronco e do Limoeiro. Os seis hospitais da cidade estão no chão. No grandioso Hospital de Todos os Santos, no lado nascente do Rossio, dez acamados ficam sob os escombros. Das cerca de 20 mil casas de Lisboa, mais de duas mil foram destruídas e apenas três mil continuam habitáveis. As freguesias mais afectadas são S. Miguel, Sto. Estêvão, S. Paulo, S. Nicolau, Sta. Catarina, Mártires, Sacramento e Encarnação. Das 40 igrejas paroquiais (algumas de interiores riquíssimos, como a Patriarcal) 35 ficam destruídas.

Em Alcântara a terra fende-se, libertando "um vapor sulfuroso". Coisa admirável: o aqueduto, acabado sete anos antes, aguenta-se.

O céu azul desapareceu sob a poeira escura dos aluimentos e a calma do dia santo sob os gritos dos sobreviventes. O resto é um monte de ruínas.

Thomas Chase, outro britânico que sobreviveu, apesar do quarto andar em que se encontrava ter ruído, descreve o que vê ao sair à rua logo após os primeiros tremores: "as pessoas estavam todas em oração, cobertas de pó, e a luz aparecia como se tivesse estado um dia muito escuro". "Nesta aflição se ouvião fervoríssimas confiçõens em público de culpas cometidas", refere outro testemunho.

Outro comerciante, de origem francesa, Jácome Ratton, é quase cinematográfico quando descreve a surpresa com que, ao sair à rua, pôde observar as pessoas correndo ainda em camisa no interior das casas cujas paredes fronteiras desabaram.

Nas ruas correm sobreviventes desvairados, fugindo dos desabamentos que se sucedem. E "nem havia distinção de sexo, idade, nascimento ou fortuna" (mercador Thomas Jacomb). Outros procuram nos escombros familiares aprisionados. Uma menina loura de três anos sobreviverá sete horas ferida sob os escombros. Procura-se segurança nos poucos largos e praças, no alto de Sta Catarina, na Cotovia (ao Príncipe Real), no Campo Grande.

Os que vão para as bandas do rio - uma multidão junta-se no Terreiro do Paço, onde se vêem "pessoas quase nuas" e padres ainda paramentados, e também no Largo de S. Paulo - são colhidos por uma onda enorme que por pouco afogava os vigias do Bugio.

Não se sabe ao certo, mas o sismo terá vitimado dez mil dos cerca de 250 mil habitantes de Lisboa, sobretudo gente das classes mais baixas dos bairros populosos - S. Nicolau, Sta Justa, Socorro, Santos, Encarnação, Alfama ou Castelo. Entre a comunidade britânica, a maior da cidade, registam-se 77 vítimas. Contam-se pelos dedos as figuras de grande destaque que sucumbiram aos abalos. O embaixador de Espanha, entalado sob escombros, é uma delas. Os prejuízos - escreve-se na História de Lisboa, de Dejanirah Couto - ultrapassarão 1500 milhões de libras.

Depois da terra, o mar

Noventa minutos depois do terramoto, seriam umas 11h00, dá-se uma forte réplica e o Tejo, que estava na vazante, retira-se para o largo, ao ponto de se lhe ver o fundo, para logo voltar numa vaga enorme com "mais de 20 pés de altura" (seis metros), varrendo de lama e restos de embarcações as zonas baixas.

"Enquanto a multidão estava reunida próximo da margem do rio, a água subiu a uma altura tal que ultrapassou a inundou a parte baixa da cidade... os barqueiros ao serem sacudidos dos barcos para terra pelo subido avanço da água, saltaram para a margem para se salvarem, sendo os seus barcos imediatamente levados pelo mar em retirada, que vazou e encheu, vazou e encheu, em quatro ou cinco minutos... Foi surpreendente observar vários navios grandes, que estavam em seco na Boavista, a desencalhar e a serem levados rio abaixo" (comandante de navio inglês). Segundo o embaixador dos Países Baixos em Lisboa, "no rio a maré subiu e desceu cinco ou seis vezes".

No Tejo apareceu "uma enorme massa de água a erguer-se como uma montanha" que arrastou muitos com ela. Alguns barcos fundeados, apanhados em redemoinhos, mergulham a pique no fundo. A zona de Belém foi das mais inundadas. O pároco da Cruz Quebrada regista que o mar "três vezes entrou pela terra dentro" e "com tanto ímpeto que botou abaixo as guardas da ponte".

Depois do mar, o fogo

Horas depois dos abalos, outro véu encobre o céu azul. Os círios e as velas dos altares e os fogões das casas atearam fogos que lançam no ar rolos negros de fumo. Arde o palácio do marquês de Louriçal, arde a Igreja de S. Domingos, arde a Boa Hora. A brisa de Nordeste junta os fogos isolados. As cinzas volteiam no ar para se depositarem pelas ruas e praças. Os muitos vagabundos e marginais que rondavam as vielas, ou fugiram das cadeias, assustam com falsos alarmes os moradores que encontram, assaltam-lhes as casas danificadas e propagam os incêndio. Um francês desertor (da Guerra da Sucessão da Áustria) confessará mais tarde ter deitado fogo à riquíssima Casa da Índia. Um "mouro" da cadeia da Galé que ateara chamas em sete sítios. Mas o saque não dura muito. Seis novas forcas são erguidas em Lisboa e com elas "cessou com brevidade o escândalo de tantos roubos", regista em 1758 o arquivista da Torre do Tombo Moreira de Mendonça. Nesse Novembro, 34 suspeitos de pilhagem serão enforcados.

As casas de madeira, que tinham aguentado de pé, sucumbem às chamas. À tarde, a cidade é "um gigantesco braseiro". O incêndio lavra cinco dias e vê-se de Santarém. Chegara "o último dia do mundo", dirá Voltaire. Entontecidas pelo espanto e pelo fumo, assustadas pelos boatos - o terramoto ia repetir-se, o paiol do Castelo ia rebentar - milhares de pessoas em fuga entopem as saídas da cidade. Fogem para os arredores e para as quintas.

De tarde, o centro de Lisboa fica deserto. Só um oficial adolescente, cujos soldados desertaram, se mantém no posto de guarda à Casa da Moeda.

O padre Manuel Portal, que em 1756 escreveu uma História da Ruína da Cidade de Lisboa, estava na Rua Nova do Almada quando se deu o desastre: "Fiquei enterrado, porém sem pedra nem pau me dar na cabeça. Nesta ruína estive enterrado até acabar o terramoto". É salvo por outros membros da sua congregação. Com uma perna ferida é levado em braços por dois homens. Dali até às portas de Santa Catarina (ao Camões) é só escombros. "Voltei ao Loreto, pelo impedimento que achei na travessa da Trindade pois estava derrubada a igreja... Cheguei a São Pedro de Alcântara não encontrando senão mortos e ruínas", descreve.

A vida continua

A cidade pasmou-se e horrorizou-se com a extensão do desastre, mas hoje considera-se que o número de vítimas foi pequeno para a magnitude do abalo.

"Tivesse a consternação geral sido menor, não só muitas vidas como bens poderiam ter sido salvos", critica o comerciante britânico já citado, incomodado com o espectáculo de muita gente, entre cada abalo, "a atormentar os moribundos" com ladainhas e gritos de misericórdia. Só terão acalmado com a notícia de uma aparição da virgem na Penha de França "acenando um lenço branco ao povo".

Lisboa vai tornar-se um enorme acampamento, com tendas feitas de velas vindas da Ribeira das Naus ou os tapetes tirados das casas.

Os padres rondarão as ruínas e à dor juntarão o medo, dizendo que o desastre foi castigo divino e exigindo penitências. Já tinham feito o mesmo em 1531. O futuro ser-lhes-á propício: nos seis meses seguintes serão sentidas mais 250 réplicas. Antes de ser queimado, o missionário Malagrida opunha-se mesmo à reconstrução de Lisboa, que Deus destruíra devido à brandura para com os hereges. Havia mesmo quem acusasse os que se tentavam recompor de "lutar contra o Céu". Para outros, como Cavaleiro (Francisco Xavier) de Oliveira, fora a beatice lusitana e a Inquisição a causa do castigo.

É "notável que um desastre desta dimensão não tenha resultado em fome generalizada ou epidemias", mesmo tendo em conta a cremação causada pelo incêndio de Lisboa, nota o geofísico João Duarte Fonseca na sua obra 1755 O Terramoto de Lisboa. No próprio dia 1 de Novembro dois vereadores foram mandados para o Terreiro do Paço e a Ribeira distribuir à população comida arrancada às ruínas, peixe do Tejo e mantimentos vindos do termo de Lisboa. "Para obstar à especulação foi determinado por edital aos comerciantes que mantinha actividade que os preços dos mantimentos deveriam ser os correntes no fim do mês de Outubro", refere.

O rei fica tão abalado que não voltará a Lisboa nos 20 anos seguintes. E nunca mais habitará casa de alvenaria, preferindo um palácio de madeira, na Ajuda.

30.10.2005 - 07h54 Francisco Neves, (PÚBLICO)

sábado, 27 de agosto de 2005